É triste ver o estado a que este
país chegou. Esta situação de desgoverno total tem consequências graves em
todos os ramos da sociedade. Podia falar da Economia do país, mas seria mais do
mesmo e nem sequer é a minha área; podia falar sobre a Saúde, mas também não me
acho a mais competente. Mas, como aluna do 12º ano sinto-me na posição privilegiada,
mas cada vez com menos condições e apoios, de falar na primeira pessoa sobre
a Educação.
Depois de doze anos de escola,
posso dizer que já vi muita coisa. Muitas dessas coisas revoltaram-me: a
atribuição de subsídios a alunos que vivem bem e apenas o recebem por
declararem apenas parte dos rendimentos; os livros que são extremamente caros e
alguns alunos não conseguirem, de nenhuma maneira, suportar essa despesa. Estes
são apenas parte dos exemplos.
À medida que a crise se instalou
em Portugal e deixou a sua marca em todos os sectores, eu vi a qualidade do
ensino a manter-se, ou até a melhorar. E não, não foi por mais apoios do
Governo à Educação. Foi pelo esforço sobre-humano de pais, professores e diretores
das escolas. Há todo um jogo de cintura para que os alunos não sofram as
consequências dos cortes na Educação, e por vezes isso não é valorizado. Se os
alunos não tiveram quebras no rendimento escolar, se não abandonaram a escola,
se não desistiram, não foi porque o Governo tenha conseguido motivá-los. Quem o
fez foram os professores. Aqueles que, segundo José Luís Peixoto «não vendem o
material que trabalham, oferecem-no. Nós, com o tempo, com os anos, com a
distância entre nós e nós, somos levados a acreditar que aquilo que os
professores nos deram nos pertenceu desde sempre. Mais do que acharmos que esse
material é nosso, achamos que nós próprios somos esse material. Por ironia ou
capricho, é nesse momento que o trabalho dos professores se efetiva. O trabalho
dos professores é a generosidade.»
Hoje os
professores lutam pelos seus direitos. Sou aluna de Línguas e Humanidades e
estudei todos os passos das liberdades, dos direitos inalienáveis do Homem, da
democracia. Estudei como se instalam as ditaduras, sei-o bem. E digo que já
faltou mais para que isso aconteça. Sou também aluna de Ciências Políticas,
disciplina pouco lecionada mas que me ajudou em muito a perceber esta caminhada
para o Estado Mínimo.
O que eu não entendo é como é que
o Governo não pensa efetivamente no bem dos alunos. E este ano foi
especialmente polémico: primeiro, os exames nacionais de 12º versariam sobre a
matéria dos três anos, com efeitos imediatos (que acabou por ser adotado de
forma progressiva), e agora com este braço de ferro com os professores, que vai
fazer com que sejam colocados no Ensino Superior, na 1ª fase, alunos que se
submeteram a duas provas diferentes.
Ora, se o objetivo dos exames
nacionais é uniformizar o acesso ao Ensino Superior, em que a prova de ingresso
é igual para um aluno do Norte ou do Sul, como é possível conceber que, dentro
da mesma escola, possam haver alunos a ser sujeitos a duas provas diferentes? Para
além do mais, esta postura do Governo acentua ainda mais as diferenças entre
Ensino Público e Privado visto que no Privado dificilmente as greves são
feitas, talvez por medo de represálias.
Concluo então com uma certeza:
daqui a uns anos, esta greve será matéria de estudo nos bancos da escola. E
espero, sinceramente, que seja lecionada como causa-próxima de uma revolução. E
que, se essa não for bem sucedida, seja a base para uma mudança de
mentalidades, pela retoma da consciência de equidade e de Nação.
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